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Almoço na Relva - Édouard Manet (1863)


É muito comum o emprego dos termos Realismo e Naturalismo associados. Algumas vezes, são termos sinônimos; outras vezes, aparecem como duas estéticas literárias muito próximas uma da outra. No entanto, existe uma fronteira entre uma coisa e outra: é possível perceber algumas diferenças entre a prosa realista e a naturalista, apesar do grande número de pontos em comum.
Alguns preferem ver o Naturalismo como uma espécie de prolongamento mais forte do Realismo. Sob esse ponto de vista, o Naturalismo seria um Realismo exacerbado. Seria uma forma mais aprofundada de encarar o homem.
Os naturalistas sempre estariam vendo o lado patológico do homem, o seu envolvimento com um destino que ele não consegue modificar; as situações de desequilíbrio muito fortes; o homem que se comporta como um animal, obedecendo a instintos; o homem condicionado ao meio em que vive, subjugado pelo fator da hereditariedade física e patológica, que determina o comportamento dos personagens


O Naturalismo é uma escola literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. A escola esboçou o que pode-se declarar como os primeiros passos do pensamento teórico evolucionista de Charles Darwin. Os romances naturalistas se destacam pela abordagem extremamente aberta do sexo e pelo uso da linguagem falada. O resultado é um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador. Ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de estar lendo uma obra contemporânea, que acabou de ser escrita. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, que acreditavam ser a Seleção Natural impulsionadora da transformação das espécies. Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.



O francês Émile Zola foi o idealizador do naturalismo e o escritor que mais se identificou com ele. O Romance Experimental (1880) é considerado o manifesto literário do movimento. As leituras de Zola sobre a teoria evolucionista de Darwin (a Origem das espécies foi publicada em 1859), A filosofia da arte (1865), "um grande estudo fisiológico e psicológico". O que Claude Bernard tinha desvendado no corpo humano, Zola iria desvendar na sociedade. A título de curiosidade, conta-se que Zola pouco mais teve que fazer do que substituir as palavras médico por romancista do livro "Introduction a l'étude de la médicine experimentale" (Claude Bernard) para poder escrever a sua obra "Le Roman Expérimental", de 1880. Outras influências fortes sobre seu trabalho, nesse sentido, seriam a obra de Honoré de Balzac (que havia realizado uma verdadeira radiografia da sociedade francesa com a série de romances. A comédia humana, concluída em 1846) e as idéias socialistas em ascensão (O Manifesto Comunista de Karl Marx e Friederich Engels é de 1848). Em 1871, Zola dava início a seu grande projeto, a série Os Rougon-Macquart. A repercussão na imprensa do êxito de A taverna (1876) levou Zola a responder à crítica da seguinte forma: "Estou sendo considerado um escritor democrático, simpatizante do socialismo, mas não gosto de rótulos. Se quiserem me classificar, digam que sou naturalista. Vocês se espantam com as cores verdadeiras e tristes que uso para pintar a classe operária, mas elas expressam a realidade. Eu apenas traduzo em palavras o que vejo; deixo para os moralistas a necessidade de extrair lições. Minha obra não é publicitária nem representa um partido político. Minha obra representa a verdade". Em 1880, Nana é lançado e faz grande sucesso. Aborda um tema ousado: a prostituição de luxo.
Em 1881 Zola lança sua obra-prima Germinal. Para escrevê-lo, o autor não se contentou com a pesquisa, foi direto à fonte. Passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a umidade dentro da mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos mineiros, por isso sua narração é tão impactante. A força de Germinal causou enorme repercussão, consagrando Émile Zola como um dos maiores escritores de todos os tempos.

Artes plásticas – A pintura dedica-se a retratar fielmente paisagens urbanas e suburbanas, nas quais os personagens são pessoas comuns. O artista pinta o mundo como o vê, sem as idealizações e distorções feitas pelo realismo para expor posições ideológicas. As obras competem com a fotografia. Em meados do século XIX, o grande interesse por paisagens naturais leva um grupo de artistas a se reunir em Barbizon, na França, para pintar ao ar livre, uma inovação na época. Mais tarde essa prática será adotada pelo impressionismo. Um dos principais artistas do grupo é Théodore Rousseau (1812-1867), autor de Uma Alameda na Floresta de L'Isle-Adam. Outro nome importante é Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875). O francês Édouard Manet (1832-1883) é um nome fundamental do período, fazendo a ponte do realismo e do naturalismo para um novo tipo de pintura que levará ao impressionismo. Ele retrata a realidade urbana sem muito da carga ideológica do realismo. Influencia os impressionistas, assim como é por eles influenciado. Fora da França destaca-se o inglês John Constable (1776-1837).

No teatro, o naturalismo exerceu mudanças marcantes, com o surgimento do diretor, do cenógrafo e do figurinista. Até então, o próprio ator escolhia suas roupas, um único cenário era usado para diversas montagens, e não estava definida a posição do diretor como coordenador de todas as funções. A iluminação passou a ser mais estudada e adotou-se a sonoplastia. É um radicalismo do Realismo. As principais peças são baseadas em textos de Zola, como Thérèse Raquin, Germinal e A Terra. A encenação deste último constitui a primeira tentativa de criar um cenário tão realista quanto o texto. Na época, o principal diretor de peças naturalistas na França é André Antoine (1858-1943), que põe em cena animais vivos e simula um pequeno riacho.Outro autor importante do período, o francês Henri Becque (1837-1893), aplica os princípios naturalistas à comédia de boulevard, que ganha caráter amargo e ácido. Suas principais peças são A Parisiense e Os Abutres. Também se destaca o sueco August Strindberg (1849-1912), autor de Senhorita Júlia.

NATURALISMO NO BRASIL – No país, a tendência manifesta-se nas artes plásticas e na literatura. Não há produção de textos para teatro, que se limita a encenar peças francesas.Nas artes plásticas está presente na produção dos artistas paisagistas do chamado Grupo Grimm. Seu líder é o alemão George Grimm (1846-1887), professor da Academia Imperial de Belas-Artes. Em 1884, ele rompe com a instituição, que segue as regras das academias de arte e rejeita a prática de pintar a natureza ao ar livre, sem seguir modelos europeus. Funda, então, o Grupo Grimm em Niterói (RJ). Entre seus alunos se destaca Antonio Parreiras (1860-1945). Outro naturalista importante é João Batista da Costa (1865-1926), que tenta captar com objetividade a luz e as cores da paisagem brasileira.
Na literatura, em geral não há fronteiras nítidas entre textos naturalistas e realistas. No entanto, o romance O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo (1857-1913), é considerado o marco inicial do naturalismo no país. Trata-se da história de um homem culto, mulato, que vive o preconceito racial ao se envolver com uma mulher branca. Outras obras classificadas como naturalistas são O Ateneu, de Raul Pompéia (1863-1895), e A Carne, de Júlio Ribeiro (1845-1890). A tendência está na base do regionalismo, que, nascido no romantismo, se consolida na literatura brasileira no fim do século XIX e existe até hoje. http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo -

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